Analise solo interprete facil

Análise de solo: Como interpretar de forma fácil. Passo a passo.

Olá, pessoal!

Abaixo, temos uma análise de solo que será usada nesse artigo como referência para poder ensinar a você a interpretar uma análise de solo de forma fácil.

Escrevi esse artigo em razão da grande quantidade de alunos dos cursos de ciências agrárias que ainda ficam com dúvida ao fazer a interpretação de uma análise de solo.

Mas, antes de interpretar a análise de solo em si. O pessoal me faz algumas perguntas e vou respondê-las.

Qual análise é mais importante: a de solo ou a foliar?

Na verdade, não existe uma análise mais importante, mas sim uma análise que complementa a outra.

De modo que, a análise solo é utilizada na fase de planejamento da cultura agrícola.

E análise foliar é utilizada durante a safra, isto é, ao longo da cultura agrícola no campo.

É importante ressaltar, de vários estudos mostram que os extratores utilizados atualmente para micronutrientes no solo, são insuficientes. Assim, os extratores de micronutrientes na análise solo podem subestimar ou superestimar a quantidade de micronutrientes no solo ( Zn, B, Mn, Fe, Cu).

Para resolver este problema da análise solo em quantificar os micronutrientes, recomenda-se fazer a análise foliar de micronutrientes. Com isso, você estará mais seguro ao fazer a recomendação de adubação com micronutrientes para a cultura agrícola.

Qual o laboratório é confiável para fazer uma análise de solo?

Já me falaram que foi levado uma mesma amostra de solo para dois laboratórios diferentes e que os resultados obtidos também foram diferentes. E fica a dúvida, qual o laboratório que está certo? Em qual laboratório eu posso confiar?

Vamos analisar bem para poder responder essa questão. Afinal, existe diversos fatores que contribuem para que o resultado de cada laboratório seja diferente.

O fato dos resultados terem uma variação é algo normal e não anormal.

Vou te mostrar os fatores que contribuem para os resultados serem diferentes pelo fato de levar a mesma amostra em dois ou mais laboratórios de análise de solo.

 

Primeiro fator: metodologia usada pelo laboratório

Descubra a metodologia usada pelo laboratório. Sim, isso mesmo, cada laboratório trabalha com uma metodologia. Na prática, quer dizer: a forma que foi extraído os elementos do solo.

Cada metodologia pode usar por exemplo um tipo de extrator ou reagente, um tipo de equipamento, um tempo maior ou menor para extrair o mesmo elemento. Traduzindo, se a forma de analisar os elementos são diferentes é claro que os resultados também serão diferentes.

Não é possível que os resultados sejam exatamente iguais se a metodologia for diferente, mesmo os laboratórios usando metodologias iguais os resultados na maior parte das análises não serão exatamente iguais e sim haverá uma variação.

Segundo fator: o laboratório participa de algum programa de controle de qualidade laboratorial de análise de solo

Fonte: EMBRAPA

Você sabia que existe um controle de qualidade para os laboratórios de análise de solo?

Sim, existe sim, mas o que acontece é que não são todos os laboratórios que participam desse programa de qualidade. O laboratório participa se quiser, ele não é obrigado por lei a participar do programa de controle de qualidade.

E aí que reside o problema, as vezes o produtor pensa no preço cobrado para fazer a análise de solo. E nessa questão de preço o barato sai caro. Então, da próxima vez que for analisar o preço cobrado para fazer análise de solo, considere que todos os laboratórios que você está fazendo orçamento, participam de um programa de controle de qualidade.

O programa de controle de qualidade de um laboratorial de análise de solo consiste no envio de várias amostra de solos por um órgão certificado (EMBRAPA, PROFERT, IAC, ROLAS e outros) para que o laboratório determinações de fertilidade, micronutrientes e física de solos.

Quando órgão certificado envia as amostras para o laboratório participante, na verdade ele já sabe o resultado da amostra enviada.

O que ele irá fazer é comparar os resultados da análise de solo que eles têm no caso órgão certificado (EMBRAPA, PROFERT, IAC, ROLAS) e verificar o quanto houve de variação do resultado fornecido pelo laboratório participante.

Lembre-se, o laboratório confiável para você levar o seu solo para fazer análise é aquele que participa de algum tipo de programa de controle de qualidade.

A nível de Brasil temos vários programas de controle de qualidade entre eles temos ou da Embrapa a nível de Brasil, a nível do Estado de São Paulo temos o programa do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em Minas Gerais temos o programa da Universidade Federal de Viçosa (UFV) conhecido como PROFERT, no sul o ROLAS e vários outros programas dependendo do Estado.

Terceiro fator: a interpretação da análise tem como base faixas de interpretação e não um número isolado.

Outro ponto que deve ser observado é que ao interpretar uma análise de solo todos os livros te recomendação no Brasil trabalho com faixas da interpretação isto quer dizer que eu nutriente para ser considerado muito baixo, baixo, médio, adequado ou alto não é classificado como o número exato.

Justamente, pelo fato de ocorrer variações nos laudos dos diversos laboratórios, vamos ver uma tabela de interpretação abaixo.

Fonte: EMBRAPA

Imagine que você enviou uma análise de solo para 2 laboratórios, o laboratório A determinou que o fósforo = 6 e o outro laboratório B determinou que o fósforo foi = 8.

Em um primeiro momento, você se assusta pois houve uma diferença de 2 mg/ dm³ para a mesma análise de solo.

Porém ao fazer a interpretação desta análise de solo você verificou que para o Fósforo ser classificado como baixo ele pode variar entre 6 a 8  mg/ dm³ de acordo com a tabela acima.

Observe que apesar dos números serem diferentes entre os 2 laboratórios para a mesma análise de solo. A interpretação do fósforo será classificada como baixo. Consequentemente, os cálculos de adubação terão como referência o baixo teor de Fósforo.

Assim, verifique se a variação dos elementos em 2 laboratórios diferentes está dentro da mesma faixa de classificação, caso a variação dos elementos for maior do que a mesma faixa de classificação do nutriente, você deve verificar se os fatores anteriores (Primeiro fator: metodologia usada pelo laboratório ou Segundo fator: o laboratório participa de algum programa de controle de qualidade laboratorial de análise de solo).

Qual o intervalo de tempo recomendado para fazer uma análise de solo?

O intervalo de tempo recomendado para fazer uma análise de solo irá depender na textura do solo, isto é, se é arenoso ou argiloso e da quantidade de safras plantadas durante o ano.

Em relação à textura do solo para solos argilosos o recomendado é realizar análise de solo em um intervalo de 4 a 5 anos.

Já, para solos arenosos é recomendado realizar análise de solo em um intervalo que varia entre 2 a 3 anos.

Em relação a quantidade de culturas plantadas durante o ano, quanto mais safras forem realizadas maior a exportação de nutrientes para os grãos/ frutos/ colmos e plumas. E dessa forma, menor será o intervalo de tempo para realizar a análise de solo.

Uma área onde há plantado apenas uma safra por ano, o intervalo de tempo será a maior do que uma área onde há plantado 3 safras ao ano.

Lembrando que, essa recomendação não é exata, cada caso é um caso, técnico você enquanto futuro, é que irá determinar o intervalo de tempo correto de acordo com a sua realidade.

Interpretação da análise de solo

A interpretação da análise de solo consiste em classificar os teores de nutrientes em muito baixo, baixo, médio, adequado e alto. Só isto!

Considere uma análise de solo realizada no Estado de São Paulo. A unidade usada em São Paulo é o mmol_c / dm³.

Se você estiver usando a literatura de São Paulo para fazer a interpretação como exemplo o Boletim 100, basta classificar os nutrientes em muito baixo, baixo, médio e alto.

Considere como exemplo a análise de solo abaixo para nosso exercício.

Em que:

pH: potencial de hidrogênio ou acidez ativa;

P: fósforo;

S-So₄^-2: enxofre, na forma de sulfato;

Si: silício;

K: potássio;

Mg: magnésio;

Ca: cálcio;

Al: alumínio;

H+Al: acidez potencial;

MO: matéria orgânica;

CO: carbono orgânico;

Agora, as variáveis abaixo são calculadas de acordo com os elementos apresentados anteriormente.

SB: soma de base

SB = Ca² + Mg² + K + Na, em mmolc/dm³

SB= 2,9 + 10 + 6 + 0 = 18,9 mmolc/dm³

CTC: capacidade de troca catiônica total ou potencial ou a pH 7

CTC pH 7 (T) = SB + (H + Al), em mmolc/dm³

CTC pH 7 (T) = 18,9 + 18,6 = 37,5 mmolc/dm³

V%: saturação por bases

V = SB/T x 100, em %

V = 18,9/ 37,5 x 100 = 50,4%

CTC efetiva (t) 

CTC efetiva (t) = SB + Al³, em mmolc/dm³

CTC efetiva (t) = 18,9 + 0 = 18,9 mmolc/dm³

m%: saturação por alumínio

m = Al³/ t x 100 em %

m = 0/ 18,9 x 100 = 0%

Relação do percentual de Ca na CTC total (T)

Ca/ T x 100: 10/ 37,5 x 100 = 26,66 ou aproximadamente 26,7%da CTC total está ocupada pelo Ca.

Relação do percentual de Mg na CTC total (T)

Mg/ T x 100: 6/ 37,5 x 100 = 16% da CTC total está ocupada pelo Mg.

Relação do percentual de K na CTC total (T)

K/ T x 100: 2,9/ 37,5 x 100 = 7,7% da CTC total está ocupada pelo K.

Relação do percentual de H+Al na CTC total (T)

H+Al/ T x 100: 18,6/ 37,5 x 100 = 49,6% da CTC total está ocupada pelo H+Al.

Relações entre as bases (Ca, Mg e K)

Ca/Mg: 10/6 = 1,7

Ca/K: 10/ 2,9 = 3,4

Mg/K: 6/2,9 = 2,1

Agora, se você está em outro estado como Minas Gerais e outros Estados do Brasil é recomendado transformar as unidades de mmol_c / dm³ para cmol_c / dm³ para ficar de acordo com os livros de adubação.

Para transformar de mmol_c / dm³ para cmol_c / dm³, basta dividir por 10. 

Lembrando, que a unidade cmol_c / dm³ é usada na maioria dos Estados brasileiros.

Transformar de mmol_c / dm³ para cmol_c / dm³ em alguns elementos: K, Ca, Mg, H + Al, SB, CTC total

Não transformar as unidades dos seguintes elementos: pH, P, So₄, MO, V%, m%.  

pH: 5,2 (não transformar)

P (resina): 5 mg / dm³(não transformar)

S-So₄^-2: 6 mg / dm³ (não transformar)

K: 2,9 mmol_c / dm³ ÷ 10 = 0,29 cmol_c / dm³

Ca: 10 mmol_c / dm³ ÷ 10 = 0,1 cmol_c / dm³

Mg: 6 mmol_c / dm³ ÷ 10 = 0,6 cmol_c / dm³

H + Al:  18,6 mmol_c / dm³ ÷ 10 = 1,86 cmol_c / dm³

MO: 14,6 g / dm³ ÷ 10 = 1,46%

SB: 18,9 mmol_c / dm³ ÷ 10 = 1,89 cmol_c / dm³

CTC: 37,5 mmol_c / dm³ ÷ 10 = 3,75 cmol_c / dm³

V: 50,4% (não transformar)

m: 0% (não transformar)

 

Agora, vamos interpretar a análise de solo e classificar o teor de nutrientes em: muito baixo, baixo, adequado e alto.

Abra o livro Cerrado: correção do solo e adubação da EMBRAPA, 2004, a partir da página 392 – Anexo 6 e faça a interpretação.

pH: 5,2 (adequada)

P (resina): 5 mg / dm³ (baixo)

S-So₄^-2: 6 mg / dm³ (médio)

K: 0,29 cmol_c / dm³ (médio)

Ca: 0,1 cmol_c / dm³ (baixo)

Mg: 0,6 cmol_c / dm³ (baixo)

H + Al:  1,86 cmol_c / dm³ (não interpreta)

MO: 1,46% (adequada)

SB: 1,89 cmol_c / dm³ (não interpreta)

CTC: 3,75 cmol_c / dm³ (não interpreta)

V: 50,4% (adequada)

m: 0% (baixa)

Pronto, a interpretação da análise de solo foi realizada com sucesso.

Em um segundo momento é realizado o cálculo da necessidade de nutrientes exigido pela cultura que será plantada. Nesse caso, são propriamente os nutrientes. Exemplo a quantidade de N, P₂O₅, K₂O, Ca, Mg, S e outros.

Em um terceiro momento é realizado a escolha do tipo de adubo (matéria prima ou formulado).

Por exemplo, você pode suprir a necessidade de nutrientes com o adubo tipo matéria prima.

No caso, do nitrogênio você pode usar a uréia, o sulfato de amônio, nitrato de potássio e outros.

No caso, do fósforo você pode usar o super simples, super triplo, MAP, DAP, o fosfato natural reativo e outros.

No caso, do potássio você pode usar o cloreto de potássio.

Além das matérias-primas acima citadas você pode trabalhar com formulados com aquelas famosas relações de N: P: K como exemplo: 04-14-08, 05-25-25, 10-20-20 e outros.

Entre escolher a matéria simples ou formulado para atender a necessidade de nutrientes pela cultura. Você deverá levar em conta, principalmente, o custo financeiro para o produtor rural. Não apenas o custo em si de aquisição do adubo mas também o custo do frete do adubo da cidade até a fazenda e o custo de aplicação desse adubo na lavoura.

Lembrando que, quanto mais o adubo for concentrado em um determinado nutriente, menor será o custo com frete e o custo de aplicação na lavoura.

Quer aprender a recomendar a quantidade de nutrientes e escolher o tipo de adubo a ser aplicado?

Leia nesse artigo Tipo de adubação: Como recomendar de forma fácil. Passo a passo.

Além de ter um exercício resolvido passo a passo tem o link para confirmar se os cálculos estão corretos por meio da calculadora disponibilizada no blog

Conclusão

Não tem segredos em fazer a interpretação da análise do solo.

Basta ter atenção, principalmente, nas unidades da análise de solo usada pelo laboratório e verificar se a unidade da análise de solo está de acordo com o livro que você está utilizando para fazer a interpretação.

Caso, a unidade da análise solo for diferente do livro, faça a transformação de unidades. Se quiser conferir os seus cálculos de transformação de unidades usadas na análise solo, use a calculadora de transformação de unidades do Blog para confirmar os seus cálculos.

Outro ponto importante, é trabalhar com laboratórios que têm um programa de qualidade de análise solo conforme descrito no artigo. Pois, você terá mais confiança nos resultados enviados por laboratórios certificados.

Se tiver dúvida, participe nos comentários.